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Há uma aranha na minha casa de banho
Escondida entre a torneira e o azulejo
Vive no medo do seu pequeno tamanho
Por isso só no sossego da noite a vejo

Faz uma teia pequena e sua forma é tal
Que qualquer bicho que tolo por ali passe
Percorre descontraído um caminho fatal
Pois não há nada que a aranha não cace

Quando a casa está escura em sossego e paz
E os meninos dormem felizes e enroscados
A aranha em corrupio pelo rabito traz
O fio que compõe na teia os fios rasgados

Traças, moscas e muitos bichos-de-prata
Encontram aqui o triste fim da existência
Mas não condeno a forma como os mata
Pois não há maldade mas só sobrevivência

Vive aranhinha entre a torneira e o azulejo
Num canto perdido da minha casa de banho
Esquece o mundo lá fora e renúncia o desejo
De seres a aranha que esquece seu tamanho

Calma lá aranha que eu nunca te farei mal
Foi apenas um suspiro que foi ter contigo
Sou teu servidor muito dedicado o mais leal
Nada disse a ninguém que fizeste aqui abrigo

Vejo-te às vezes tão quieta que temo o pior
Terão as traças e os bichos-de-prata acabado
Estarás tu queda aguardando caça melhor
Ou no selo da vida terá teu prazo expirado

Serás carapaça vazia na casa de banho
Memória de um ser que foi abandonado
Filha criada e alijada por um deus tacanho
Que mata bichos sem sentido nem recado

Atiro-te outro sopro daqueles bem fortes
Para a teia tremer como pele de tambor
Não é para fazer mal mas só que acordes
Como a um filho se dá palmadinhas d’amor

Temo que não te movas dando prova defunta
Que és só cadáver esquecido e não chorado
Por mim que já sentia nossa vida conjunta
Em segredo unida por um amor reservado

Aranhinha já te vejo pela teia a correr ligeira
E o meu coração ganha um alento tamanho
Que perco o sono todo e velo a noite inteira
Vendo uma aranha escondida na casa de banho

A dúvida
A falta de sentido