(Ode ao capitalismo – que nunca tanto brilhou)
Não nos perdoamos
Quando perante o abismo
Deres um passo em frente
Quando sentirmos o sismo
Que levanta o mar quente
Não nos perdoamos
Quando o mar subir vazio
E o sol nos cortar a derme
Quando o ar for só bafio
E respira-lo nos enferme
Não nos perdoamos
Quando a luz nos queimar
E o fogo abrir em ferida
Quando azedo for o mar
E a vida ali esquecida
Não nos perdoamos
Pelos teus gestos podres
Pelas palavras belas
Por todos os pobres
Que à morte entregas
Não nos perdoamos
Por nos tentares e prender
Com garras de felicidade
Ao mais fútil do ser
De mentira por verdade
Não nos perdoamos
Por serdes estafermos
Mas pouco ou nada importa
Perdidos em nós mesmos
Seremos em breve manta morta