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Aprendi com Rocky Balboa que um importante traço de caráter de qualquer ser humano não passa tanto por se cai ou não, ou mesmo quantas vezes cai, mas se consegue erguer-se logo a seguir. Podia tê-lo aprendido com Platão ou Confúcio. Ver um Rei/CEO/Líder espiritual, ser forçado a uma semana de discursos circulares e vazios, banalidades que uma criança de 10 anos, a quem deixam pensar desconfia, para cativar e reforçar um estado de permanente alienação perante a vida em sociedade, seja para que os milhões que vivem sufocados aceitem o jugo da injustiça, seja para que elites estanques se mantenham insensíveis à injustiça que infligem sobre os demais milhões de seres humanos, é confrangedor.

Na #JMJ2023LISBOA pude ver cinco canais de televisão, e muitas mais estações de rádio, fazerem uma cobertura noticiosa, tecnicamente irrepreensível, mas intelectualmente preguiçosa, onde jornalistas e comentadores repetem banalidades ad nauseam, causou-me tristeza e frustração.

Vi jovens de vários países (para onde terão ido os miúdos africanos que desapareceram?) nos ecrãs. Sorriso de orelha a orelha, olhos muito abertos, quase midríacos. Vão agora para o mundo real das suas vidas e irão vê-lo com outros olhos. Essa justaposição da realidade com um filtro metafísico passa, na esmagadora maioria dos seres humanos, em oito a dez dias.

Porém, a visita do Papa não foi inteiramente fútil, teatral e banal. Creio ter mostrado as suas cores no discurso feito na Univ. Católica de Lisboa. Entre as cócegas ao nosso orgulho provinciano citando poetas (que nunca leria não fosse a recomendação de última hora de um dos membros do seu CA), alertou para a hipocrisia intrínseca a todos os sistemas sociais (ainda que na tenebrosa perspectiva do pecador, infantil e perdido) e para a marca definidora das elites: o mais absoluto egoísmo. Falou. A elite ali sentada, ouviu. Os outros, preocupados em servir o Porto de honra ou produzir o melhor enquadramento de imagem, não terão prestado atenção. Fora daquela sala, no mundo, os injusticados também não prestaram atenção (distraídos que estão com as redes sociais e a pobreza à perna), nem os jornalistas os alertaram.

As elites, terão ouvido. Registaram e, hipocritamente, fizeram de conta.

“À universidade que se comprometeu a formar as novas gerações, seria um desperdício pensá-la apenas para perpetuar o atual sistema elitista e desigual do mundo com o ensino superior que continua a ser um privilégio de poucos. Se o conhecimento não for acolhido como uma responsabilidade, torna-se estérilSe quem recebeu um ensino superior – que hoje, em Portugal e no mundo, continua a ser um privilégio -, não se esforça por restituir aquilo de que beneficiou, significa que não compreendeu profundamente o que lhe foi oferecido… o título de estudo não deve ser visto apenas como uma licença para construir o bem-estar pessoal, mas como um mandato para se dedicar a uma sociedade mais justa e inclusiva, ou seja, mais avançadaComo alguns de vós sublinharam, devemos reconhecer a urgência dramática de cuidar da casa comum. No entanto, isso não pode ser feito sem uma conversão do coração e uma mudança da visão antropológica subjacente à economia e à política. Não podemos contentar-nos com simples medidas paliativas ou com tímidos e ambíguos compromissos. Neste caso, «os meios-termos são apenas um pequeno adiamento do colapso».”

Excerto do discurso do Papa Francisco, in Diário de Notícias, (https://www.dn.pt/sociedade/amp/papa-citou-pessoa-sofia-de-melo-breyner-e-negreiros-na-universidade-catolica–16799332.html).

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