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a carta que queria ter-lhe entregue

e do mar que começou por ser manso chão
enormíssima onda de tumultuo se alevanta
vento feroz redemoinho cortante vagalhão
que mesmo ao mais valente a força espanta
talha o rumo varre o convés aperta o coração
a vida suga e esmorece e a morte agiganta

e ao leme o homem de frio e medo treme
e seus braços de puxar não podem mais
e a boca gretada e seca suplica e geme
e o mar atira-lhe com todos os temporais
e o homem seus dedos dormentes apreme
e grita ao mar revolto: JAMAIS!

da terra a salvação também lhe é negada
cães e lobos esperam-no cegos de raiva
e afiam os dentes para o matar à chegada
partem-se as tábuas e o convés s’esgaiva
mostra-se o fim para que a’lma fique assustada
somem-se faróis para que rumar não saiba

este barco é minha vida e dele tenho emprego
podes bufar e podes cuspir quanto susto há
que nem que me torça e foda eu me entrego
a vida que tenho é minha e não ta dou já
do que sou e do que é meu eu não ablego
porque grande é a vontade que neste corpo está

por isso atira ventos e vagas lança mais
mostra-te Deus a est’homem que eu
grito ao mar revolto: JAMAIS!

A luta
15.1