Dias demorados arrastam-se em rios de anos velozes e décadas hipersónicas por entre o refrão indistinto do somatório de todas as músicas de uma vida que faz ondular as margens repletas de fracassos e oportunidades perdidas ofuscadas e ampliadas como tudo que é pequeno e por pequeno ser corrói e mata a inocência dos primeiros anos onde a vida era vivida sem margens nem dias que deles se desse conta ou contas que deles se tivessem de prestar a um qualquer ser imaginário ou a uma qualquer pessoa ou mesmo a ti próprio, Eras indistinto dos dias e do tempo que habitavam em ti e tu neles e sempre livre como alguém que habita em si próprio sem disso dar-se conta porque é natural como é natural o tempo entre o teu primeiro sopro e a vez em que deste conta que respiravas e como a partir desse dia deixaste de ser tu e passaste a ser um outro que sofre não por não respirar mas por saber que és escravo da sua própria respiração para sempre e a toda a hora um escravo ciente de que conquistar a liberdade irá custar-te tudo, Segues desde então distante do propósito original e primeiro e último da tua vida que passa a ser feita de dias demorados em rios de anos velozes nesse indescritível momento em que te dás conta que é a vida que te fode por fora na pele enrugada e nos joelhos doridos e por dentro no tormento que a dimensão da tua prisão de ar te sobrecarrega e te faz pensar na indignidade da tua condição onde nunca serás tu porque nunca poderás fazer a escolha que te liberta e faz de ti um ser completo íntegro propositado absoluto no que a fragilidade de viver tem de absoluto e fatal.
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