Aí há uns 2700 anos, terá vivido um homem que, por assim o pensar ou por o ouvir de alguém e lhe reconhecer valor, deixou-nos, a nós, a humanidade, aquela que será, talvez, a melhor, senão a única, forma de nos libertarmos da prisão deterministica composta tanto pela física, como pelo ADN.
Zoroastro, tido como um dos primeiros filósofos racionalistas tanto quanto sabemos, é o profeta da primeira divindade monoteísta ética (assim como da sua sombra), e sintetizou em seis palavras, a condição perfeita do indivíduo em sociedade. Simultaneamente prática, igualitária, transcendente, anarquista e responsável: Bons pensamentos; Boas palavras; Boas ações.
Gosto de Zoroastro, para um tipo que deu demasiada importância ao seu amigo imaginário. Pena o seu deus, Ahura Mazda ter sido concebido como um deus menor, como apenas a face brilhante de uma moeda de maniqueísmo divino. Numa face, um deus todo ele bondade e, na outra, Arimã, um ser desprezível e perigoso. Um cão raivoso, um bicho com cornos e cascos nas patas traseiras, representando tudo que é mau e perverso no mundo. Como se, bons pensamentos, boas palavras, boas ações, não se revestisse de suficiente atratividade sem a permanente ameaça da sanção para lá da lei do semelhante.
Talvez então como hoje, a humanidade não esteja à altura do seu lugar no universo. Seja porque sente o peso incomensurável da sua excecionalidade no planeta, seja porque o medo existencial imanente do seu cérebro reptiliano, a impeça de se erguer só, sem padre nem altar, e aceitar que é a vida, e apenas a vida, que confere sentido a ela mesma.