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Os antigos gaulases achavam que o céu lhes podia cair em cima, fazendo disso temor maior. São aval desta verdade histórica e indubitável, a obra de Goscinny e Uderzo, documentando a sociedade gaulesa em ricos pormenores de usos e costumes, organização política, negócios estrangeiros, arte da guerra, conhecimento científico, cultura musical e arquitectura, relacionamento social, actividades económicas e outros aspectos de uma civilização que doutra forma estaria esquecida. A ruína do firmamento era para estes irredutíveis individuos a catástrofe das catátrofes, o fim a ferro e fogo, o olvidamento. Seria pois admissivel que, como outros povos com semelhantes medos, tratassem de aplacar a eventual e sempre politicamente oportuna cólera de Toutatis com repetidos e sanguinários sacrificios. Goscinny e Uderzo são omissos na sua obra quanto a essas práticas, por certo não encontraram provas arqueológicas de tais actos que, de tão importantes, estariam documentados nas pedras. Se tamanho medo não era exorcizado com sangue, tão grande dogma tolheria o povo que não saíria a lavrar a terra, não fosse um bloco azul esmagar-lhe o crânio, não se faria ao mar, vá uma nuvem despregar e inundar-lhe o barco, metendo-o ao fundo. Estariam condenados quer o céu caísse quer não caísse. A civilização prosperou e graças a uma simples convicção que colocava o medo a uma distância segura e permitia encarar o futuro de cabeça erguida e prosperar. “O céu pode cair-nos na cabeça, mas amanhã não será a véspera desse dia”. E pronto, com uma frase arruma-se a morte para um canto e pôe-se a vida a mexer.

um edifício mental, construído para reforçar a confusão e manter viva a chama
Um novo olhar
beija-me