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Vejo-te ao longe, como num sonho. Daqueles onde navego ao sabor de brisas carinhosas, com nuvens de arranha-céus invertidos, bases perdidas na distância das alturas, pendurados como fitas de papel, na manhã de um arraial esquecido. O som é fresco, emanando de águas invisíveis, agitadas por pagaias imponderáveis e líquidas. O ar corta-se a trinados de melros distantes, esquecidos na base perdida dos arranha-céus. Algas restolham na rebentação da margem que apenas se adivinha. Tudo está cheio de azuis. Celestes, marinhos, bebé, cobaltos. Até o vermelho das luzes de sinalização das antenas dos arranha-céus é azul. As algas são azuis, de tão verdes. Tudo tão azul como cerejas. Tão azul como maçãs que douram ao sol ou azul como o calor do teu corpo que me aquece a memória. Tão azul como tu; como nós. E, finda a imóvel viagem, encalha a canoa precária na nossa tristeza azul, no nosso peito azul, magoado e dorido pelo peso dos dias impregnados de nós próprios.

Vejo-nos tristes. De uma tristeza que escorre da alma para o corpo, assomando como um vulcão lento, de lava azul, soprando sem pressa, a voz da sibila que abafa e blinda. Tudo sabemos e não queremos o que sabemos para nós. Tudo terá de ser novamente conquistado à vontade de um dia não azul, mas caleidoscópio vibrante de alegria verde, lilás e amarela. Amarela como as férias ao sol, lilás como as veredas de um planeta distante. Verde como os campos que cultivamos há muito, numa inocência longínqua e esperançosa. Encalhada a canoa que nos salvou na viagem azul, é hora de assentar o pé nos horizontes intangíveis de sermos felizes.

De ti
in Colour