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Rendo-me, resignado, ao inútil do tempo eterno que é o céu de março, matizado ainda de fevereiro. De como o azul se deixa vencer pelo sol, pelo seu corpo imberbe, de astro rei que faz bailar todos em seu redor, em prisão rodopiante. É o preço a pagar pela vida; ser uma pedra gelada e só, mas absolutamente livre ou um corpo vivo, fecundo e apaixonado, mas para sempre aprisionado.

Indiferente aos ritmos cósmicos que fazem de mim um astronauta, sinto o calor abraçar-me no seu sopro imaginado e colocar uma barreira entre mim e o frio do mundo que teima em não desconfinar. Fecho os olhos e tudo é vermelho manso; abro os olhos e tudo é azul esperança. Passam pela frente da memória, em farrapos brancos de água imponderável, as tardes de esplanada banhadas a nortada e entrecortadas por ondas distantes.

Nada na esplanada é vermelho, nem mesmo o sangue que cobre os guarda-sóis. Nem mesmo a bola que anima o pé da menina de chapéu azul fofo. Tudo na esplanada que emana da memória é de um azul fofo. Não há o vermelho sanguíneo de estar, nem há o azul ventoso que bate na cara e excita o jornal pousado e faz abanar o livro entre os dedos. Não há o som esquinado do mar nas pedras e nos peixes. Não há o aproximar troante das bolas de Berlim.

Há apenas a fofura azul da memória recuperada, há tão só a patina de mil visitas a mil esplanadas sobrepostas, como um livro a que vemos só a capa. Falta o vermelho sanguíneo de terra presente. Falta o azul ferrete do planeta debaixo dos pés.

Projeto LONO
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