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Gosto das pequenas flores silvestres que pululam as nossas vidas sem disso dar-mos conta.

Gosto das brancas, amarelas, vermelhas, lilases; com verdes caules; sós ou aos molhos e que estão por todo o lado. Gosto das que crescem na beira da estrada, nas bermas, bordejando os lambris ou brotando das fendas dos muros e das rachas nos passeios.

As flores silvestres são, tão só, a beleza incógnita que teima em existir apesar do nosso alheamento. Calcadas por pés incautos ou perversos, esmagadas por rodas e raspadas por animais, elas resistem a tudo que se lhes oferece. Arrancamento, sol e seca, lixo e pó, mas acima de tudo, indiferença. Gosto das flores silvestres por pulularem as cidades, recusando serem colocadas no seu lugar e resistindo aos elementos. Gosto das pequenas flores silvestres por serem imunes ao nosso esforço em as destruir e por serem indiferentes à nossa indiferença. Existem porque é o seu dever existir. Não pedem, nem necessitam, da nossa autorização para existir. Existem e são belas, apesar de lhes negarmos o reconhecimento de como são belas. Têm razão de ser intrínseca, um imperativo categórico liberto da condição de senciência, uma existência livre de propósito ou justificação.

Gosto das pequenas flores silvestres porque existem. E são belas apenas porque sim. E quando eu e todos os outros já não existirmos para dizermos quão belas são, elas continuarão belas. E retomarão o mundo que é seu. Cobrirão os passeios e as estradas; aterrarão muros debaixo dos seus pequenos caules e finas raízes. Abafarão arranha-céus como tapetes verticais, bandeiras hasteadas em honra de uma vitória silenciosa, depois de uma resistência multi milenar. E serão belas; e o mundo será belo. E cada uma delas será um tributo a todas que resistiram à destruição e à indiferença. Serão absolutas na sua diminuta condição de flor. Já não flor silvestre, mas apenas de vida. E não haverá quem o reconheça, quem o seu perfume respire e lhes cante loas que nunca pediram.

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