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Hoje lá longe, onde o destino é memória de outros tempos, memórias aguardam a sua vez, no mar, nas falésias, nos caminhos de terra batida e na água salobra da torneira.

Trazida pelo vento leste que anima as folhas secas da palmeira que me protege e ensombra, a chuva penetra os sentidos de um dia quente, seco e azul. O teclado tátil, rematando o ecrã branco, não está interrompido por palavras, pois perdeu todo o seu sentido e repele os dedos absortos pela indolência da torre meio delapidada de cerveja belga. O olhar perde-se na quietude do céu azul, fortíssimo e no quieto do amarelo dos hibiscos que delimitam a esplanada. Um atlântico desnaturado, tão liso quanto o céu, espraia-se à minha frente, escondendo medusas e mal dando sinal de si. Vergo-me àquela opressão lânguida de um setembro desligado da realidade do trabalho, da pandemia, da escola que recomeça dentro de dias, e não escrevo. Colho memórias, para as transplantar para o ecrã asséptico do tablet, semanas depois, já germinadas pela distância que torna tudo mais feliz e poético. Enrolado num universo desconexo do real, do resto dos dias, procuro desligar-me do tempo e viver apenas de espaço. Espaço limitado pelo encontro do céu com o mar, da palmeira com o vento quente e seco do leste. Nessa existência absurda e desesperançada, só a chuva imaginada pela palmeira dá sentido à vida. Só a chuva enche o mundo vago e azul e amarelo, de céu, de mar e de hibiscos.

Achievement
Chega de dizer Chega