Podem animais facilmente perder-se
Esquecem por desleixo o seu caminho
Depois farejam o chão como se fosse
Grande fundo medo de ficar sozinho
Só animais altos e baixos querem ter
Mais dos altos e baixos por companhia
Num mundo excessivo onde se perder
Grande pano veloz do dia-a-dia
Tal como bicho que fareja seu igual
Rumo sonho e memória em mim casto
Às paredes negras que nunca dão sinal
De encontrar o nada onde me basto
Uma rosa tão flor que fosse vermelha
Viva como as memórias que tormenta
Em vagas de perdição sem vã centelha
Risco na luz o colo que acalenta
Passam todos pretos de pata fendida
Em vortex quente mas de fado vazio
Dados à mitologia esquecida
Destinados à perdição do estio
São altivos no trilhar caminhos latos
Hirtos apenas pelas luzes do cruzar
Arfam segundos em séculos compactos
Saem velozes para nada alcançar
Vejo-os eu vento perto da janela
Vidros sentidos e cortinados baços
Pelo suor esquecido na mais bela
Debruada a medos e embaraços
Conta-me o dia por outras palavras
Que soem amarelas e confortáveis
Caminhos que por entre galáxias lavras
Mundos apenas em sonho habitáveis
Conta-me então para que não entenda
Que não é por procurar que eu me perco
Que vogar não é algo que se aprenda
É sim dádiva daqueles que acerco