Poesia
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Finalmente livre
Estou cego de tanto ver, Confinado por tanta liberdadeNuma pradaria imensa que me obriga a olhar para baixoSempre para baixo, Ofuscado pela ausência da solitudeAnseio por estar só, E verAnseio que me deixem, E escutarSem os grilhões das imagens em cascata, Igual e constanteSem o seu troar indistinto, Sufocante algoz da escolhaTudo o que me sobra do universo me pede […] More
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Sempre o mar
É sempre o mar que me trazEm cada onda que morreA vontade de viver renovadoOnde se agiganta o passadoSinfonia do tempo que escorrePor cada onda abandonado Paredes rolantes avançamDesfazendo-se em brancuraCobrem a vida e outro tantoSumidas nesse rouco prantoCom a sua agreste canduraQuais filhas do terror e espanto Ficam só os nomes das pedrasOnde todo o resto já mudouE nada […] More
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Não nos perdoamos
(Ode ao capitalismo – que nunca tanto brilhou) Não nos perdoamosQuando perante o abismoDeres um passo em frenteQuando sentirmos o sismoQue levanta o mar quente Não nos perdoamosQuando o mar subir vazioE o sol nos cortar a dermeQuando o ar for só bafioE respira-lo nos enferme Não nos perdoamosQuando a luz nos queimarE o fogo abrir em feridaQuando azedo for […] More
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Olhar o Sol
Se…Alguma vez olhaste o sol de frenteDe modo tão cego e tão contenteQue dos leitosos olhos envidraçadosTeus sonhos jorrassem branqueados E…Tuas dores não fossem mais que nadaNum mar sem ondas que se enfadaApenas porque o imenso sol aguentasSó na firmeza de como o enfrentas E…Por isso te veem como um estranhoAlguém dos idos tempos de antanhoOu então o que se […] More
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As coisas da vida
(Põe tu as putas das vírgulas) Por baixo um chão incertoVerde e molhadoDe brancos mal cobertoEm constante movimentoTerminando em rebentoAo horizonte confinado Por cima um manto protetorDe um azul onduladoA algodão mal enchidoAnimado pelo ventoQue sopra frio e dá alentoAo corpo no casaco cerrado No meioPousadas numSuspensas doutroSeguem inertes as coisas da vidaDe que abdicamos apenas por instantesOu em breves […] More
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4 ViewsComentários fechados em A vida de coração partido
in Cartas de Amor, Poesia, TextosA vida de coração partido
Uma flor voa sobre a nossa sombraInundando de aroma a fim o rio que somosMudando-lhe os contornosAcendendo nela a sua morteEsbatendo-a a ponto de ser pouco mais que memória Deixas-me, deixo-te, deixa-mo-nos sem nos soltarmosPresos ao coração que sempre somosCativos das dores da partilha, reféns do prazer de viver a doisPresos à liberdade de nos amarmosNada mais que dois corações […] More
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0 ViewsComentários fechados em Exercício 1
in Cartas de Amor, Poesia, TextosExercício 1
Encontrei-te onde não estavasNum amor que é só memóriaNas flores a azul estampadasDe um vestido feito história Sentado ao lado de mimPelos meus olhos olhandoAbandonado no jardimA tua chegada buscando Encontrei-te onde não estavasNo que ficou da tua ausênciaE eu num desejo sem palavrasEspero por ti sem paciência More
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Às voltas, sempre às voltas
Perante o prenúncio do fim da origemVejo o passar do tempo em vertigemCravando rugas e sarando feridas Como uma película sem início nem fimComo o infinito contido apenas em mimAbrindo questões há muito esquecidas Sinto que propósito algum me assisteOnde existo sem desígnio que registee Que esta é a verdade nua e crua Que não sou mais que luz sem […] More
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2 ViewsComentários fechados em Na distância
in Cartas de Amor, Poesia, TextosNa distância
É na distância que te amo maisÉ ao longe que o meu coração por ti sangra Estar longe de ti é sentir o vazio da falta que me fazes; da felicidade que é a tua presença É ao ver-te refletida no mundo que sei o quanto necessito de tiÉ por saber que me amas que tomo conforto na dor de […] More
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um outro Tempo
Passa a hora no tempo que acabouNo momento do nada que desprendeO remanso dos sonhos já esquecidosLembrados pelo que nunca foram Lampejos negros da memória virgemDe só recordar o que não aconteceuE invejar o que tem preso pelo limboDa plenitude de uma existência vã Na negrura que encandeia a almaNa brevidade de uma luz dissonanteUm fotão de esperança no terrorQue […] More
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Disse não à chuva e ao vento
Disse não à chuva e ao ventoQue me levam os passos para longeDo mundo que me rodeia e envolveEm lânguidos e cortantes murmúriosComo o afagar de uma navalhaOu doce estridente da terra queNua se faz mãe da solidão Disse não à chuva e ao ventoE fiquei para sempre com a memóriaAlagada por um mar de pedra emSulcos concêntricos ao desesperoContido […] More
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3 ViewsComentários fechados em Vazio
in Cartas do Vampiro, Poesia, TextosVazio
Ao deitar-se e abrir os olhosPara um mundo indiferenteAdianta-se o sonho nos folhosDo gelado lençol da mente Local de cegueira brancaOnde todo o mar é solidãoUma ave sem voz estanca A liberdade da sua inaçãoE ao ser mais forte arrancaTodo o sangue ao coração Seco bate e sem sentidoO coração inútil por estar vazioVivendo da memória que vem Do sangue […] More
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Podendo algum dia
Podendo algum dia estarNum único local a vida todaDe pés plantados e contemplarUm momento onde eterno fosse E seria em frente ao marCom o sol na cara e onde barcosCravados na lonjura dos olhosSe derreteriam em horizonte E seria em frente ao mar Onde gruas feitas de ferrugemGuardariam o meu velar soleneCom areia dura por pedestal E seria em frente ao […] More
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Every day is like Monday
Deixa a tua reaçãono final do texto. Nada passará además que dolor. Todos os dias são segundaRepletos de vazio e relentoSolidão grave e profundaTonitruante e escuro vento Todos os dias são segundaAzuis, cinzentos, iguaisSecam estrada fecundaFecham todos os sinais Rodopiando numa rotundaSucedem-se na contramãoOs dias que são segundaCirculando sem paixão Monótono o seu caminhoCinzento vai no seu viverPois se encontra […] More
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Entre nós e as palavras *
Entre nós e as palavrasRessoa a luz das ideiasNa forma das coisas purasDe suas vozes arredadasPor negro e claro cheiasContrastante nas figurasDe silêncios caiadas Entre nós e as palavrasNão há voz que articuleOu grafismo que vinculeOs nomes que nos demosVidas que nos pintamosFormas jamais deslavradasPor si mesmo representadas Entre nós e as palavrasNo recôndito da linguagemRevela-se longo o sentidoFeito de […] More
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Livro?
Que seguras tu na mãoFino e de um plástico pretoBarato de aspeto e caro de preço Que tanto lhe dás com o dedoPolegar no pequeno ecrã baçoMonocromático Que mundos se te revelamNessa pequena janela sem maisQue um incessante faiscar de letras Que objeto tão insignificanteTe faz sorrir e parar para pensarAbrires a boca e dizeres ‘Ah’Fixares os olhos e deles […] More
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Sobre Ítaca*
Saído de Ítaca, não és nada nem ninguémNada conheces senão o amor da tua mãe Saído de Ítaca, tu és pela mão de alguémPerdido na cidade, sem saber o que esta tem Começas então a calcorrear, gatinhar e logoA voar. Onde a cada dia se revela em ti o fogo De quem abre como novos os olhos a cada diaE […] More
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Duas linhas
Um caminho Um dia, assim do nada, à frente dos teus pés, uma linha se parte para saberes quem és E tu, assim do nada, tão seguro de quem és, percebes que a teus pés está quem sempre foste e que nunca poderás perder ou o novo ser que te espera que quase não esteve para acontecer Houvesse linha à […] More
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o Prado
Na tarde luminosa e friaSob o céu azul límpidoVieste de alma despidaAquecer este ser sombrio Teus pés sobre o pradoEram de verde invisíveisPerfeitos como os beijosQue entrançados colhemos Num sonho que é só nadaDesejo de luz que soterraO corpo da vívida negaçãoQue é estar vivo e não viver Os beijos despidos de amorDestruiriam-se no pradoE talharam o seu futuro Que […] More
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Memória / Persistência
Passadas lá atrásAs passadas que guiaste guiadoPelas passadas passagensQue te trouxeram aqui Só Mas sempre acompanhadoPelos passos dos que em tiPassarame PassandoDeixaram as marcas dos passosQue passarás a quem para ti olhar Quando já fores passado More
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Interbellum
Paira uma sombra no mundoUma sombra cheia de passadoEcoando o nada negro fecundoNo esquecido presente alienado São os sinais que se repetemDe caminhos outrora pisadosBanalidades que intrometemA vida arco-íris dos alheados Caminha a sua própria solidãoO homem agora empobrecidoE a mulher confiada à devoçãoDo que para si terá já perdido Dana-se o jovem sem futuroDana-se o de futuro roubadoNo altar […] More
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Finalidade
Passa a torrente apaixonada do ímpeto E nada mais fica no ecrã de luz branca Que o poema ditado pelo passageiro Incomodado por ser irremediavelmente Um triste narcisista sem reflexo que se olhe Lhe segure a mão e lhe dê o alento Necessário para não ter de se perguntar: Para que servem essas palavras? Quem as tomará para si? O […] More
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PSFB
Nada sinto em mim até ao momento em que o escrevo. Não existo até à hora em que a minha vida é transposta em palavras, visível apenas num reflexo de contornos difusos, entrevista nos espaços deixados pelas palavras na negra mancha de texto. Como se tudo o que sou: Fosse o sol conhecido pelo calor que deixou na areia da […] More
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Ser ou não ser
Ser ou não serEis a questãoDo amanhecerAo limite da solidão Do sono que esqueceÀ saga nua que viveuSe fasciculada saísseDas páginas intoxicadas da Orpheu Se é porque respiraOu se detém de razãoSe termina em grossa piraOu se transcende o coração Se começará a vidaNo primeiro dia do serOu estará adormecidaAté ao dia de morrer A questão não é maisQue a […] More














![Entre nós e as palavras * 18 Fonte: museu.cm-torresnovas.pt A colectiva, Mário Cesariny, Artur Bual, Francisco Relógio e Lima de Freitas, 1993. Acrílico s/ tela, 120x200 cm [n.º inv. MMTN 5760]](https://www.maquinamundi.com/wp-content/uploads/2023/09/Quadro.png)








