Ao deitar-se e abrir os olhos
Para um mundo indiferente
Adianta-se o sonho nos folhos
Do gelado lençol da mente
Local de cegueira branca
Onde todo o mar é solidão
Uma ave sem voz estanca
A liberdade da sua inação
E ao ser mais forte arranca
Todo o sangue ao coração
Seco bate e sem sentido
O coração inútil por estar vazio
Vivendo da memória que vem
Do sangue há muito perdido
Como Baco segurando o gázio
Saudoso da vida que não tem
Vazio…
Como o espaço profundo
Belo e intransponível
Como o mar azul profundo
Belo e intangível
Onde…
Beneméritos de fachada
Parasitam a multidão cega
E nenhum prazer se nega
À liberdade acorrentada
Porque…
Vazio bate o coração
Pelo sangue que anseia
Não desiste da canção
Nem do amor que o norteia
Martela sua ritmada função
Esperando a lua cheia
No amor que teima em despontar
Nas ténues ideias se alimentar
Vai transformando a desolação
Em oásis de vida e comunhão
Fazendo do vampiro
Frio, exangue e abjecto
Um ser com vida e sentido
Porque me deste o teu afecto