1.
Os corpos já não são corpos
Os sentidos já não são sentidos
Antes um coletivo monstruoso
Medonho dos mais puros de nós
Feito de…
Olhos impermeáveis coriáceos
Que nada vêem
Ouvidos de absorvente cortiça
Que nada ouvem
Boca feita de catedral gótica
Onde ressoa insuportável o silêncio
Ossos como searas ondulantes
Que se vergam á menor brisa
Somos monstros…
Que vêem e não se indignam
Que ouvem e não se insurgem
Que abrem a boca e não lutam
Que se vergam ao luxo da brisa
Monstros…
Quando a dor nada nos diz
Quando a injustiça passa por fado
E a morte é um número distante
Onde calam os monstros, Cada um
Monstros…
Não porque não ouvem
Não porque não vêem
Mas porque ouvindo e vendo
O sofrimento nada lhes diz
2.
Apenas o seu próprio desconforto lhes empresta uma réstia de humanidade, e nela, a virtuosa monstruosidade que é ser humano

