Para Nicolau de Cusa (1401-1464), cardeal católico renascentista, considerado o pai da filosofia alemã, Deus é ratio essendi e ratio cognoscendi da realidade. Como tal, qualquer pensamento filosófico terá por partida e horizonte, Deus. Não há pergunta nem objeto que não suponha necessariamente a Deus como princípio. E se por princípio, na imensidão que é Deus, entenderemos nele igualmente o fim, então início e fim, contrários absolutos, assim como todos os contrários absolutos, são, num corolário arriscado, coincidentes. É apenas em Deus, e na sua natureza paradoxal, que qualquer paradoxo se resolve, não porque se anule ou concilie, mas apenas porque se torna inconsequente.
O conhecimento do ser na procura de si adquire um corpo de auscultação interna, na medida em que tudo é uno e indissociável. Ser é razão para saber e saber é a concretização do ser.
Somos porque sabemos; sabemos porque somos. Desse modo, tomando-se Deus pela mão do pensamento de Espinosa (e se bem percebido), de ser Natureza e, por extensão, também Homem, abrem-se duas linhas de pensamento: a primeira é que o Homem existe por deferência de Deus, sendo portanto uma extensão Deste e apenas por Seu desígnio; a segunda é que Deus existe na medida em que apenas existindo pode o Homem sanar a sua incapacidade de se explicar fora de si mesmo. Será então, segundo esta segunda linha de pensamento, o Homem o criador de Deus. Deus esse que será sempre obrigatoriamente criado, pelo Homem e em cada homem e mulher, porquanto lhe é absolutamente necessário ao entendimento que quer fazer do universo e qual o seu lugar nele. O Homem vê-se assim simultaneamente absoluto e finito, num paradoxo onde apenas Deus, esse único conciliador de opostos, é capaz de aplacar.
Da certeza absoluta de que no Universo onde o Homem existe Deus é uma impossibilidade física, resta a absoluta certeza de que o Homem não existe fora Dele (ou dele).
