Não gostas que olhe para ti. E deixa-lo claro. Não o dizes com a boca, mas com o olhar vago, perdido pelos passeios ou pelo ecrã do telefone. Não o dizes com a boca, mas com o afago que a roupa, tua única fronteira, te dá. Avanças aparentemente indiferente, aparentemente feliz, aparentemente frágil. E eu fico para trás, olhando-te sabendo que não me vês; como se tal fosse possível.
Sentisse eu o que dizes; sentisse eu, porque até entendo, até percebo e compreendo muito bem. Dou-te a mão quando, com os olhos quase a rebentar dizes, de mão no ar – Não! Estou ao teu lado quando dizes que te sentes invisível debaixo de um cabelo loiro. Mostro-me sofredor contigo quando o teu amor se define pelo sacrifício.
Entendo, percebo e até compreendo. Mas amo-te apenas porque tenho medo de não ser amado. Abraço-te porque necessito da suavidade da tua pele para alisar a minha mente áspera. Reconheço-te porque desejo e espero as promessas que não fazes.
Entendo, percebo e até compreendo. Mas não o sinto. Sentisse eu, por um dia, uma hora ou um segundo que fosse, o que sentes por seres o primeiro e o último reduto da vida, o que mais próximo pode existir neste universo de um Deus, e ainda assim, como eu, cego por um cabelo loiro, te mordo, firo e castro com o meu olhar, e nunca mais te olharia assim. Mas por todas que és numa. E amar-te-ia, como se de amor fosse feito, por tudo isso.