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Quem se cruzou presencialmente com Rui Rio, sabe que ele é um homem de baixa estatura. Nas palavras do povo do norte, um caga-tacos. Os que apenas pela televisão ou em fotos nos média, o viram, podem, por comparação, comprovar esse facto. Contra isso nada feito, é assim a vida.

O que pode não transparecer tão facilmente pela imagem que projeta é que tanto a sua a sua dimensão moral como visão política, aparentam correspondência direita com a dimensão física. Nenhum político está imune a disparates, tonteiras, erros de cálculo, tentações dúbias e decisões que o tempo provou erradas ou prejudiciais, frequentemente as duas coisas, a si, ao partido e ao país. Rui Rio não é exceção. Aquando da sua governação autárquica, muitos lhe apontam pequenez moral e política ao destruir habitação social, desinvestir na humanização da cidade e preferir atuar, a título do saneamento de contas públicas e isenção para com as forças vivas da cidade, de forma autoritária e propagandistica. Porém, de todas as decisões questionáveis, que como autarca ou líder partidário possa ter tomado, nenhuma é tão lesiva da democracia, nem tão previsivelmente perigosa, como a inclusão de um partido de direita populista na solução governativa para a Região Autónoma da Madeira. Este primeiro passo de legitimação de um outsider populista, por inclusão no jogo democrático, por um insider democrático (para que fique claro, o partido e não a pessoa), é facilmente reconhecível como um testflight para uma parceria no governo da República. Tal é, não apenas um erro, mas um perigoso passo em direção ao autoritarismo.

Peter Linz, no seu livro de 1978, “The Breakdown of Democratic Regimes”, identifica quatro ‘tiques’ para identificar um potencial autoritário. Mais tarde, Já neste século, Steven Levitsky, no livro “How Democracies Die”, define um guião para políticos democráticos contendo quatro soluções para obstar a esses tiques ou ameaças. (Vá ler, estão traduzidos em português e disponíveis por todo o lado).

Primeiro, um pouco de história. No início da década de 30, os conservadores alemães, confrontados com a grave instabilidade social e política da Alemanha e com a sua popularidade em queda, aliaram-se, fazendo até comícios conjuntos, a um pequeno partido populista em ascensão. O líder desse partido, Adolf Hitler, soube aproveitar a oportunidade do palco posto à sua disposição por um partido com robustas raízes democráticas. Também Rafael Caldera, ex-presidente da Venezuela, procurando de forma egoísta prolongar a sua vida política, aliou-se a Hugo Chavez, perdoando-o dos crimes que era acusado e legitimando o PSUV.

O que nos dizem então Linz e Levitsky, e, mais importante, o que nos deveria dizer o bom senso e o amor à democracia. Entre outros alertas importantes, que apenas uma leitura completa dos textos esclarece, que é um imperativo dos partidos democráticos não cederem à tentação de se aliarem a movimentos ou partidos antidemocráticos, antissistema ou populistas. Por muito que essa opção possa parecer natural (ou mesmo a única, numa altura em que o tal parido populista parece subir e o aliado natural do PSD esvai-se em lutas intestinas, liderança pueril e indiferença generalizada), essa opção, dizia, é reveladora de visão política reduzida ao circunstancial e moralmente questionável. É também, e de forma mais perigosa, prenúncio de um caminho sobejamente trilhado por várias democracias no século passado. Caminho esse que levou à morte dessas democracias, com resultados trágicos.

Até um homem pequeno consegue ver ao longe, bastando para tal que limpe o orgulho e a soberba da sua mente e recorde a história e os erros que o precederam. Até um homem pequeno sabe que há erros que não se podem repetir. Sabe também que há decisões que, no imediato, custam cargos e abrem portas a desertos, mas que, a prazo, conquistam a confiança do eleitorado, reforçam as instituições democráticas e enchem de páginas elogiosas a história das nações.

Por amor
Às Flores