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Lá vai o chorão
Chorando não ter um tostão
Lá vai o zangado
Achando estar tudo errado

Passa rápido o azedo
Porque tudo lhe mete medo
Segue-o o moralista
Colocado no topo da sua lista

Fisga o mal intensionado
Com que é preciso ter-se cuidado
Afirma o sempre certo
Nem sonha que nem está perto

Ronca o mal humorado
Sem ninguém a seu lado
Vejo o sem vista
Aparentado com o Batista

Vai de punho em riste
De figura demasiado triste
Atrás o esclarecido
Para quem tudo está perdido

Começa o gozão
Que não vale um tostão
Acaba o falso
Que acabará descalço

Corre o stressado
Corre para nenhum lado
Observa o inteligente
Desdenhando de toda a gente

Vai ali o descontente
Não encara ninguém de frente
Atrás o extremista
Que deu em ser bombista

Tapa-se o púdico
De pensamento sempre fálico
Berra o engraçado
Que deixa todos entediado

Olha lá o bondoso
Come a perna e dá o osso
Curva-se o servil
Fala manso mas pensa vil

Abraça-te o amigo
Fode-te o cu a boca o úmbigo
Presta-se o prestável
Enganando de forma tão amável

Louvores palmas e preces
Ao que parecendo é
E morte a todos esses
Que não se dão de pé

Viva o assassino
Aceita a vida como cassino
Viva o ladrão
Que nunca lhe falte o pão

Bendito o indigente
Não teme o que tem pela frente
Ode ao pirómano
Por ser muito mais que autómato

Feliz do carnívoro
Que não se passa por herbívoro
Abençoado o brutal
Que é sempre directo e frontal

Segue este mundo cor-de-rosa
Por todos e ninguém apreciado
A cor cantada em verso e prosa
Não é mais que sangue deslavado

Dos tantos que sofrem calados
Ou dos que se vão num estouro
Não se chora pelos enforcados
Pois foram pagos a peso de ouro

Metal que mancha a mão
É a riqueza que tiraniza
E desmancha o que é irmão

Quem chora mais entroniza
Mata e mirra o seu coração
Não tem apenas o que precisa

Este é o tempo comprido
Dez mil candeeiros