Do nada, tudo. Não de um nada tangível, mensurável como o zero de qualquer coisa, nem um nada absurdo como lenços coloridos saindo de um bolso, ou de como de uma cartola mágica salta um coelho branco. Tão-pouco um nada existencial de um ser sem propósito. Antes um nada inconcebível, incomensurável e inefável. Um nada para lá da compreensão, da linguagem e da forma. Um nada que não se revela no universo, nem fora dele. Que não existe nem no espaço nem no tempo. E tão-pouco fora destes. Um nada que escapa a todas as tentativas de o caraterizar por inclusão ou por exclusão. Nada cuja menção apenas desvirtua o seu próprio conceito. Por não ter registo passado, presente ou futuro, está vedado a historiadores e profetas. Um nada menos que o nada da palavra que mede a minha incapacidade para o abarcar.
E de como desse nada o universo, esse tudo que é mais, surgisse e, por dentro dele se expandisse continuamente, fica o nada para lá do tudo, onde ainda não existe lugar a que se vá, nem tempo que se conte. O nada envolve o tudo de forma contínua. É o universo, empurrando o nada, e este vestindo-o como uma pele da qual não se consegue livrar. Visto assim, do nada, o universo não abarca a plenitude. Apenas o nada é tudo.