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Não sejas parvo. Este é, claramente(?) um exercício de ficção.

A Avenida da Derrota da Vergonha, antiga Av. da Liberdade, está sempre engalanada para lembrar os que vivem na cidade e os muitos que por ela passam que tempos houve em a vergonha grassava no país. Grossos pendões negros, alternando a ouro as siglas AV e CH, adornam os edifícios que ladeiam os sentidos ascendente e descendente da avenida. O espelho de água no largo separador central, que crianças conspurcavam com os seus banhos e onde velhos e novos ociosos bordejavam em tardes de conspiração e desperdício de recursos públicos, foi coberto por um didático centro interpretativo do populismo iluminado. Nele se alertam os portugueses de bem para a glória do trabalho e a necessidade de eterna vigilância contra as forças da vergonha democrática, há 20 anos declaradas, em plebiscito universal, inconstitucionais.

No espaço exterior do centro interpretativo, onde em tempos havia árvores e cadeiras, uma escultura apresenta aos jovens e aos que nos visitam, as ameaças que o povo português de bem afrontou com grande sucesso. À frente de duas mulheres de lenço e ajoujadas de sacas, um homem de chapéu conduz um burro; adiante, dois seres de aspeto ominoso, talhados em basalto e além destes, uma mulher, sentada a uma mesa, oferece aos seus dois filhos, guloseimas.

Ao cimo, onde despontava a estátua de um escritor corruptor dos costumes, refulge agora, por desejo e quotização popular, a estátua do nosso sereno condutor, mostrando à sua brilhante filha e sucessora, o caminho de uma sociedade livre da escolha e, por essa via, impoluta. De dentro dela e um pouco por toda a avenida, ouvem-se excertos de discursos do sereno condutor.

No extremo oposto, no edifício dos trabalhadores políticos, antigo hotel e antro de corrupção, um enorme placar electrónico revela as virtudes do trabalho e do julgamento e pena dos poucos comportamentos vergonhosos ainda existentes.

A MetaIgreja de Cedofeita
Barca d'Alva