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Estará a fazer trinta anos sobre a estreia do filme A lista de Schindler, realizado por Spielberg e com banda sonora de John Williams. Lembro de a ela termos assistido no cinema Trindade. Lembro como no intervalo, sobre o pequeno bar, cheio, pairava um silêncio sepulcral, como se alguém houvesse que ousasse um suspiro e por toda a sala desabariam as lágrimas que bordejavam os olhos.

Hoje, trinta anos depois, dentro do carro, ouvindo o contundente trecho para violino e orquestra de Williams, toda a dor daquela negação da condição humana me volta à memória em avalanchas de angústia, em rios de emoção contida apenas pelo silêncio e pela inação. Vejo, com nitidez abjeta, o pequeno casaco vermelho, sujo e amarrotado, que me entala os olhos e me esgana em silêncio cúmplice. Detém-se a bala fatigada no que, à minha frente, foi jovem, mulher, músico, talhante, amante, dançarino rodopiando enquanto cai inerte nos braços e nos troncos e nas pernas e nas cabeças e nos braços e nos peitos e nos pés misturados com mãos, misturados com abandonado terror, misturados com a história.

Nada chora como um violino. E Williams sabia disso. Nada é mais aviltante que um algoz mesquinho. E os que foram vítimas e são hoje mesquinhos algozes, parecem tê-lo esquecido.

Apenas porque um palerma qualquer o viu…
Duas linhas